sexta-feira, 25 de outubro de 2013

No campo dos sonhos de "Libra" ou A educação iludida.







Nos campos dos sonhos de "Libra". Não é isso que vai "salvar a educação brasileira"

Um texto para reflexão urgente de quem se preocupa com a Educação no Brasil.
c@rlos Rosa 

"Não sei se a educação poderá sofrer a revolução evocada, porque ainda não pensamos a etapa preliminar: que educação queremos? Os professores, as instituições, maltratados por salários humilhantes, condições indignas, manipulados politicamente até a medula, simplesmente não podem depender da extração do fundo do poço"
Paulo Rosenbaum - médico e escritor


CAMPO DOS SONHOS

Paulo Rosenbaum - médico e escritor

"Não se trata de Libra, petróleo ou leilão. Nada de apanhador no campo de centeio. Até quando teremos que aturar discursos políticos ufanistas e autorreferentes? Opiniões autocentradas se transformaram na terceira via do totalitarismo. Confunde-se “uma pessoa, um voto” com “uma pessoa, autoridade sobre todos os assuntos”. Por outro lado, temos uma sociedade voltada e regida por especialistas, gente que se esmera numa coisa só.

Na era da massificação é muito provável que estejamos vivendo o tempo onde nunca se entendeu tão superficialmente sobre tantas coisas. Ao mesmo tempo, nunca tantos dominaram tanto sobre tão poucos assuntos. O paradoxo não significa que não seja realidade. Essa é uma façanha com a marca registrada da pós-modernidade terminal. Isso é ou não desejável? Nada de sim ou não.

Aliás, ninguém ainda conseguiu vincular aos sonhos uma área submersa com megatoneladas de fósseis apodrecidos. Sonhar é uma atividade neurológica, experiência diária na qual estão envolvidos os núcleos cerebrais mais sofisticados quando o córtex atenua sua performance. Sonhar reserva mistérios desafiadores para as neurociências. Como as imagens adquirem tanta consistência? Como se processa o senso de realismo deste cinema interior? Muitos têm a sensação de que o sonho não termina mesmo quando passamos do sono à vigília. Quase 1/16 do nosso tempo existencial, essa é contabilidade onírica. É mais ou menos isso que passamos sonhando pela vida. Há até tradições que dizem que neste interregno o espírito provisoriamente desabita o corpo. Quando a respiração, as atividades metabólicas e a temperatura caírem é que tecemos esse enredo curioso. Os sonhos ainda ajudam a solucionar impasses e problemas que a capacidade lógica ordinária não consegue alcançar, segundo pesquisas recentes do neurocientista Robert Stickgold, da Universidade de Medicina de Harvard

Mas há um campo em que o sonho encontra barreira mais espessa, dificilmente superável: o domínio da realidade.

O princípio da realidade pode ser um intruso no campo dos sonhos — uma espécie de bolsa estraga-prazeres
O princípio da realidade pode ser um intruso no campo dos sonhos. Uma espécie de bolsa estraga-prazeres. Não é bem que a maioria de nossos políticos não sonhem. Estão ocupados nos vendendo uma versão edulcorada da fábula. Como aprender a confiar em quem tergiversa?Qual mágica será necessária para que voltemos a crer no resgate da função dos governantes?

Nosso problema, portanto, não é ceticismo. O problema é que somos ingênuos de véspera, e mesmo assim continuamos a acreditar. Sempre uma nova véspera renasce na manhã seguinte. Muito provavelmente, mecanismo de adaptação. Em mais uma lance espetacular da evolução, ela nos faz acordar com fé.

Não sei se a educação poderá sofrer a revolução evocada, porque ainda não pensamos a etapa preliminar: que educação queremos? Os professores, as instituições, maltratados por salários humilhantes, condições indignas, manipulados politicamente até a medula, simplesmente não podem depender da extração do fundo do poço.

Podemos ensinar até em condições precárias, enfrentar mazelas subumanas. Possível até esquecer que vivemos num mundo em que temos contas a pagar. Dar suporte aos filhos de famílias disfuncionais para exercer um papel que extrapola totalmente a função. Mas há limites para a automotivação e o altruísmo. Não podemos mais servir a uma causa que deforma o dever de ensinar. Muito menos em uma estrutura arcaica que nos coage a compactuar com a estupidez. Há ou não uma emergência? Podemos esperar que o óleo e derivados mantenham o valor em algum futuro distante? Ou merecemos mudar o estado das coisas com o que já temos?

Escolho o agora. O futuro já passou."

fonte: JBonline

Um comentário:

  1. Texto lindo e que faz mesmo pensar. O PAPO foi bonito , promessas, promessas. Só Deus sabe o que teremos REALMENTE! abraços,chica

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