sábado, 25 de outubro de 2014

Baú do Carlinhos

Reflexão do dia

Liberdade com responsabilidade, eis a questão!




"Qual é o desafio que se dirige ao ser humano? É o cuidado reponsável de buscar o equilíbrio construído conscientemente e fazer desta busca um propósito, uma atitude de base e até um projeto político. Portador de consciência e de liberdade, o ser humano possui esta missão, que o distingue dos demais seres. Só ele pode ser um ser ético, um ser que cuida de si e que se responsabiliza pela comunidade de vida"

Leonardo Boff.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Flores





É nestas flores, em particular, que
vejo desenhar-se uma linha que me leva
de mim a ti, passando sobre um campo
invisível, onde já não se ouvem
os pássaros, e onde o vento não faz cair
as folhas. Estamos em frente de um canteiro
puramente abstracto, e cada uma destas flores
nasceu das frases em que o amor se manifesta,
e do movimento dos dedos sobre a pele,
traçando um fio de horizonte
em que os meus olhos se perdem. Por isso estão
vivas, e alimentam-se da seiva
que bebem nos teus lábios, quando os abres,
e por instantes a vida inteira se resume
ao sorriso que neles se esboça

Nuno Júdice

terça-feira, 21 de outubro de 2014

beijo



BEIJO

Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.

MIA COUTO
No livro "Tradutor de chuvas"

Existência






_ Pai, ensina-me a existência.

_ Não posso. Eu só conheço um conselho.

_ E é qual?

_ É o medo, meu filho.


Mia Couto

segunda-feira, 20 de outubro de 2014



É Isto o AmorEm quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que 
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a 
manhã da minha noite. É verdade que te podia 
dizer: «Como é mais fácil deixar que as coisas 
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos 
apenas dentro de nós próprios?» Mas ensinaste-me 
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou, 
até sermos um apenas no amor que nos une, 
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor: 
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua 
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo 
esse que mal corria quando por ele passámos, 
subindo a margem em que descobri o sentido 
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo 
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor, 
de chegar antes de ti para te ver chegar: com 
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água 
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu: 
a primavera luminosa da minha expectativa, 
a mais certa certeza de que gosto de ti, como 
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste. 

Nuno Júdice, in 'Pedro, Lembrando Inês'


  Um dia ameno de outono, um dia de frescor, sinal de paz, um dia para comemorar a vida, um dia para levantar as mãos para o céu, um dia par...